Carta Mensal - Março 2025
- Rodrigo Seixas
- 11 de abr.
- 3 min de leitura

Tariff Man
O mês de março foi marcado por um recrudescimento nas tensões comerciais globais. O novo pacote tarifário imposto pelo presidente americano, Donald Trump, aumentou a incerteza no comércio internacional, com medidas mal comunicadas e uma lógica de cálculo pouco transparente.
A partir de agora, produtos importados pelos Estados Unidos enfrentarão, em média, tarifas de cerca de 20%. Como resposta, a China anunciou um aumento equivalente nas suas tarifas, com alíquota média de 34%, adotando uma política de “reciprocidade tarifária”. Esse embate comercial coloca em risco o crescimento econômico americano nos próximos anos. Gigantes como Apple e Amazon, que dependem fortemente da China em suas cadeias globais de produção, devem enfrentar aumento de custos, o que pode comprometer margens e gerar temores de desaceleração da atividade econômica global. É provável que outros países adotem medidas semelhantes, aumentando ainda mais o risco de uma guerra comercial.
O Brasil, por outro lado, saiu relativamente bem posicionado frente à nova política americana. O imposto de 10% sobre produtos brasileiros anunciado por Trump coloca o país em uma posição competitiva em relação a seus pares — sobretudo nos setores de agropecuária e siderurgia. Além disso, a recente queda nos rendimentos dos Treasuries mostra que os agentes de mercado já precificam
uma queda na taxa de juros americana, inclusive com um considerável risco de recessão no país.
No último IPCA divulgado pelo IBGE, a inflação acelerou 1,31% — o maior nível em 22 anos —, ainda que dentro das expectativas do mercado. O principal responsável foi o aumento da energia elétrica residencial, com alta de 16,8%, o que representou sozinho 0,54 ponto percentual do índice. Para o IPCA de março, a ser divulgado em 11 de abril, as projeções da FEBRABAN apontam para uma elevação
de 0,5%.
Com um fluxo de notícias intenso do lado internacional, a discussão doméstica perdeu fôlego no último mês. A trajetória da dívida pública segue preocupante, com estimativas apontando para um patamar de 80% do PIB ao final do ano, frente aos 76,1% registrados em 2024. Ainda assim, o mês transcorreu sem grandes ruídos políticos que agravassem o cenário econômico local.
Cenário de Crédito
Na próxima quarta-feira, o Banco Central divulgará os dados de crédito referentes a fevereiro, com expectativa de crescimento de 0,5% no mês. Esse avanço deve refletir, em parte, os programas públicos de estímulo, como os empréstimos consignados com garantia do FGTS. No entanto, observa-se um sinal
de alerta na composição da carteira de crédito livre, com aumento na demanda por linhas mais arriscadas, como o crédito rotativo — indício de fragilidade crescente na saúde financeira das famílias.
No noticiário corporativo, o destaque ficou por conta da aquisição do Banco Master pelo BRB, em uma operação avaliada em R$ 2 bilhões. A transação gerou polêmicas: surgiram notícias de que o Master teria tido uma oferta simbólica de R$ 1; além disso, há questionamentos sobre a qualidade dos precatórios no balanço da instituição e a capacidade de honrar os CDBs emitidos. Apesar do FGC descartar, por ora, risco sistêmico, o comportamento das taxas no mercado secundário sinaliza que os investidores ainda mantêm preocupação quanto à solidez do Banco Master. A nossa visão é de diminuição das posições até para os clientes que estão cobertos pelo FGC, de modo que seguimos atentos a oportunidades de saída estratégica das posições.
O cenário permanece desafiador, com elevada volatilidade nos mercados de ações e juros. Reforçamos nosso compromisso com a gestão ativa e prudente das carteiras, ajustando continuamente o perfil de risco dos clientes com foco na preservação de capital e na identificação de novas oportunidades.
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