Carta Mensal - Junho 2025
- Rodrigo Seixas
- há 6 dias
- 4 min de leitura

Testando Limites
Cenário Macro Global
O mês foi marcado por forte deterioração geopolítica no Oriente Médio. No início do mês, Israel inicia uma operação militar maciça, matando os principais líderes do exército iraniano. O Irã retaliou os ataques, promovendo ofensivas com mísseis e Drones, mas que foram majoritariamente neutralizadas por Israel, sem grandes danos ao País. Em 22 de junho, os Estados Unidos lançaram uma operação militar atingindo diretamente três sítios nucleares estratégicos do Irã — Fordow, Natanz e Esfahan. A entrada dos EUA no conflito representa uma nova fase nas tensões do Oriente médio, e após um frágil cessar-fogo, costurado entre EUA, Israel e Irã, precisaremos observar os novos capítulos do conflito.
Uma eventual guerra em grande escala no Oriente médio tem o potencial de aumentar consideravelmente o valor do petróleo: O irã detém o estreito de Ormuz, que sozinho representa cerca de 20% do fluxo de escoamento de petróleo no mundo, atendendo a todos os países árabes produtores. Segundo Especialistas, o fechamento dessa importante via marítima poderia elevar o preço do barril para acima dos 100 dólares, o que teria um impacto significativo na inflação global, majoritariamente dos EUA, maior mercado consumidor da Commodity. Inflação mais alta por mais tempo na maior economia global significaria menos graus de liberdade para uma diminuição dos juros americanos por parte do FED, o que impactaria a decisão de todos os bancos centrais ao redor do mundo.
Apesar de aparente trégua nas tensões, os mercados continuarão atentos aos novos capítulos do conflito.
Cenário Macro Brasil
No Brasil, o destaque do mês foi para o decreto que elevou as alíquotas de IOF para diversas operações financeiras. Na primeira versão do decreto. operações como investimento no exterior, previdência, operações de crédito – incluindo FIDCs – passariam a ser tributados, com um recuo parcial do governo horas depois. Por fim, o decreto foi sancionado, o que gerou uma reação negativa do mercado e da sociedade no geral, fazendo com que a discussão chegasse ao legislativo. Após a matéria ser pautada pelo presidente da câmara, Hugo Motta, o governo teve uma derrota acachapante: foram 383 votos favoráveis à derrubada do decreto contra 98 contrários. A área técnica do governo já indica a judicialização do tema, levando a questão ao STF.
Também teve relevância no mês a reunião do COPOM, que elevou a SELIC para 15% ao ano, maior patamar desde julho de 2006. Em seu comunicado, o comitê sinaliza o fim do ciclo de alta, porém indicando a necessidade de manter a taxa básica de juros nos níveis atuais por um período mais prolongado.

Do lado fiscal, o destaque foi a arrecadação recorde em maio: impostos e contribuições federais somaram R$ 230,152 bilhões. Esse é o melhor mês da série histórica, iniciada em 1995. Com isso, a dívida pública bruta permaneceu estável em 76,2% do PIB, o que melhora na margem as expectativas sobre esse indicador para o fim do ano.
Cenário Crédito Brasil
Na edição deste mês, trazemos ao leitor um estudo mostrando a taxa de juros média cobrada nas modalidades Consignado e Crédito em geral não rotativo para pessoas físicas. Como pode ser visto no gráfico abaixo, as taxas médias praticadas na modalidade de crédito consignado são historicamente mais baixas que as taxas de crédito não rotativo a pessoas físicas.

O grande ponto de inflexão – que trouxe surpresa inclusive ao governo – é justamente a partir de abril de 2025, após o lançamento do programa: a taxa de juros cobrada para o setor privado disparou para uma média de 57% a.a nos dois meses seguintes, o que significa um aumento de 13,3 pontos percentuais ante a taxa apurada no mês anterior ao lançamento do programa.
Essa distorção pode ser explicada por (i) uma avaliação por parte das instituições financeiras de que a nova base de clientes tem um perfil de endividamento e/ou condições de pagamento piores do que os clientes que já estavam dentro dessa modalidade, (ii) a falta de garantias das operações via FGTS, onde o governo lançou o programa às pressas sem tê-lo totalmente estruturado e (iii) por fim uma menor entrada dos grandes bancos no programa, que diminui a competição.
Setor Agro: Recuperação Econômica e Novo Plano Safra 2025/2026
O setor agropecuário segue demonstrando forte resiliência e protagonismo na retomada da atividade econômica. No primeiro trimestre, o PIB do Agro apresentou um crescimento expressivo de 12,2% em comparação com o mesmo período do ano anterior, refletindo uma recuperação robusta após a quebra de safra em 2024.
Em linha com esse movimento, o Governo Federal lançou o Plano Safra 2025/2026, com recursos totais da ordem de R$ 516,2 bilhões destinados à agricultura empresarial. De acordo com o Ministério da Agricultura, o foco do novo plano é a expansão do crédito rural e o fortalecimento da produção no campo, em um esforço para apoiar a produtividade e a segurança alimentar. O volume representa um acréscimo de R$ 8 bilhões em relação ao ciclo anterior.

Apesar da ampliação dos recursos, o novo plano também prevê elevação das taxas de juros, que podem subir em até 2 pontos percentuais. As taxas de custeio para médios produtores serão de 10% ao ano, enquanto para os demais produtores alcançarão 14%. Nas linhas de investimento, as taxas variam entre 8,5% e 13,5% ao ano.
Do total anunciado, aproximadamente R$ 414,7 bilhões serão destinados às operações de custeio e comercialização, o que representa um aumento de R$ 13 bilhões frente à safra passada. Os R$ 101,5 bilhões restantes serão direcionados para investimentos estruturantes no setor.

Com expectativa de safra recorde acima de 1,2 bilhão de toneladas, o novo Plano Safra deverá contribuir para a estabilização dos preços dos alimentos, aumento da oferta de grãos, fibras, carnes e pescados, além de ampliar os excedentes exportáveis. Estima-se que mais de 500 mil contratos de crédito rural sejam formalizados ao longo do ciclo 25/26, consolidando o papel do setor como alicerce do crescimento econômico nacional.
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