Carta Mensal - Janeiro 2025
- Rodrigo Seixas
- 20 de jan.
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de fev.

O elefante na sala
O ano de 2024 trouxe desafios significativos para o mercado brasileiro. Já em 2025, a decisão do Banco Central de elevar a taxa Selic para 13,25% ao ano, retornando aos níveis de julho de 2023, reflete a necessidade de controlar as pressões inflacionárias persistentes e as incertezas do cenário externo. O aumento dos juros já impacta as condições de financiamento, trazendo implicações diretas para o mercado de crédito.
A economia brasileira dá sinais de superaquecimento. O hiato do produto – isto é, a diferença entre o que é possível produzir dada a capacidade atual da economia e o que de fato está sendo produzido, em termos de bens e serviços – está no campo positivo há 7 trimestres, sendo este o maior nível em 30 anos. Em outras palavras, o que a economia brasileira produz com a capacidade atual é insuficiente para suprir a demanda por bens e serviços, o que traz pessimismo em relação aos rumos da inflação. O mercado de trabalho apresentou uma trajetória de crescimento robusta, com a taxa de desemprego média atingindo 6,8%, representando a menor desde 2012. Esse movimento foi sustentado pelo crescimento da população ocupada, que atingiu 103,8 milhões de pessoas, impulsionando os rendimentos e a massa salarial.
No campo fiscal, o governo central registrou um superávit primário em dezembro, impulsionado pelo aumento da arrecadação e pelo recebimento de dividendos das estatais. No acumulado do ano, o déficit primário foi reduzido para 0,36% do PIB, uma melhora expressiva frente ao ano anterior. Porém, cabe ressaltar que a capacidade de arrecadação adicional por parte do governo mostra uma importante desaceleração, o que obriga o governo a realizar ajuste também pelo lado das despesas. A dívida bruta segue alta, encerrando o ano em 76,1% do PIB. Para 2025, a expectativa é de um déficit fiscal maior, o que poderá pressionar ainda mais para cima a curva de juros e a percepção de risco do país.
Cenário Macro Global
No cenário internacional, a economia dos Estados Unidos demonstrou vigor em 2024, registrando um crescimento de 2,8% no Produto Interno Bruto (PIB). Esse desempenho foi impulsionado pela resiliência dos gastos dos consumidores, mesmo diante das incertezas eleitorais no final do ano.
A recente reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos trouxe à tona preocupações sobre os possíveis impactos na economia global. Durante seu primeiro mandato, Trump adotou uma postura protecionista, impondo tarifas a produtos europeus e chineses, o que desencadeou tensões comerciais e afetou o comércio internacional. Em seu segundo mandato, há expectativas de que essa abordagem seja intensificada, com a possibilidade de imposição de tarifas ainda mais elevadas. Essas políticas podem elevar a inflação, desestabilizar cadeias de suprimentos e impactar negativamente o mercado de trabalho.
A União Europeia, por sua vez, busca estratégias para mitigar os efeitos das políticas comerciais dos EUA. Há discussões sobre o fortalecimento da cooperação com outros blocos, entre eles o BRICS, em áreas como inovação e pesquisa, além de investimentos em sustentabilidade e projetos digitais, visando consolidar o modelo social europeu e reduzir a dependência econômica em relação aos Estados Unidos.
Cenário Crédito Brasil
Dentro desse contexto, o mercado de crédito no Brasil registrou um crescimento robusto em 2024, com o saldo total da carteira expandindo 10,9%, impulsionado principalmente pelas operações para pessoas físicas. O crédito com recursos livres foi o grande destaque, avançando 12,3% no ano, refletindo o apetite por linhas de financiamento mais acessíveis no primeiro semestre. No entanto, com o início do novo ciclo de alta da Selic, os sinais de moderação já começam a surgir, especialmente no volume de concessões, que desacelerou no último trimestre do ano de 2024.
O crédito para as empresas também mostrou recuperação, crescendo 9,1% no ano, puxado pela retomada das operações de capital de giro e financiamento de comércio exterior. Entretanto, a elevação do custo do crédito e as incertezas fiscais podem limitar a continuidade desse crescimento em 2025.
A taxa média de juros do sistema financeiro encerrou o ano de 2024 em 28,7% ao ano, impactada pelo aumento do custo de captação dos bancos e pela reprecificação do risco. Ainda assim, a inadimplência permaneceu bem controlada, com a taxa de atraso acima de 90 dias recuando para 3,0%, sustentada pelo crescimento da renda e pelo bom desempenho da atividade econômica ao longo do ano. No entanto, a tendência para 2025 aponta para uma leve deterioração, à medida que os efeitos do aperto monetário sejam gradativamente sentidos na economia.
O cenário exige cautela e monitoramento constante dos riscos. Acreditamos que a qualidade do crédito continuará sendo um diferencial relevante na alocação de portfólios, especialmente em um ambiente de juros elevados e crescimento econômico moderado. Nossa estratégia segue fundamentada em uma gestão criteriosa de crédito estruturado, com foco na alocação em FIDCs bem estruturados e rigorosamente analisados, buscando um gerenciamento de risco eficiente. Além disso, a diversificação em diferentes setores da economia real permite mitigar riscos específicos, ampliando as oportunidades de geração de valor de forma sustentável e equilibrada. Seguimos atentos ao cenário econômico e comprometidos em oferecer uma estratégia robusta, pautada na preservação do capital e na busca por retornos consistentes.
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